domingo, 23 de dezembro de 2012

Brindemos!

Como nos mais excitantes momentos que antecedem a abertura de um presente, nas mãos de uma criança, a  euforia da promessa de felicidade e sucesso invadia-me a cada badalada, que vivi e senti, como no cinema, em "slow motion", como garante da minha entrada triunfal naquele que só podia ser o meu ano... Crente, rasguei o sorriso, ergui a taça o mais alto que pude e brindei a tudo o que me era prometido.

Sonhos, projectos, sentimentos, pessoas foram abandonando o espaço que o negro dos meus dias começou a ocupar... Muito do que tinha por certo, ruiu diante dos meus olhos, sem que pudesse fazer nada para evitar. Dores acutilantes, jamais imaginadas, bateram no fundo de um corpo que ousou pensar que não mais tinha mais força para seguir, uma verdadeira e intensa necessidade de alívio ocupava um coração que não tinha mais por onde diminuir-se. Acreditava que tornando-se pequenino, a dor seria também menor. As lágrimas tinham descoberto todos os trilhos desconhecidos do meu rosto e sabiam de cor o percurso onde corriam.

Na profundidade daquele local, vazio e sombrio, ouvia apenas o eco dos meus pensamentos, e dos gritos de dor que que os acompanhavam... A voz dos outros era longínqua e quase inútil, era desapercebida de um sofrimento que "só eu" não conhecia e o sentimento de incompreensão preenchiam todos os momentos.

Frio, escuro, descrente, fraco, esgotado, continuei a caminhar, apenas por não ter alternativa e nunca estive sozinho... Ainda que eu não soubesse, alguém saberia. Ainda que não acreditasse, alguém mo faria ver. Ainda que o cansaço não me permitisse andar, havia sempre alguém que me levasse ao colo. E a todos vocês o devo, porque sou consciente que tenho os melhores amigos e a melhor família do mundo.

E é para todos vocês que escrevo. Pela gratidão, pela amizade, pelo amor que vos tenho, e pela teimosia que não me deixaram perder, e pela força de acreditar que diariamente fizeram questão de mostrar que existe dentro de mim, e por crer e querer que este ciclo cinzento acabou, e que o novo ano, a nova era, o novo ciclo, me levará mais longe, me dará novos e estimulantes desafios, e me preencherá a vida com os sorrisos que ainda me faltam.

E o melhor de tudo isto é saber que continuam e continuarão na minha vida, por serem parte integrante de mim, porque faltando-me cada um de vocês, faltará sempre, inevitavelmente, uma parte de mim.

Obrigado por nunca terem desistido, e por fazerem parte da minha vida. 

Brindemos ao fim de 2012 e ao início de um 2013 repleto de amor, amizade, partilha, trabalho e sonhos realizados.

Bom natal e Feliz ano novo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Obrigado!

Nasceu naquele tempo ido, esquecido, pintado pelo cinzento dos dias amargos.
Roubaram-lhe o colo, negaram-lhe afecto e, antes de o ser tornou-se mulher.
Moveu-se pela vontade, pelo desejo, pelo amor que encontrou, dentro de si ou nos poucos olhos que lhe devolviam sorrisos.
Cresceu sem se dar conta de não ter vivido, por desconhecimento ou inocência, a sua "meninice".

A vida ofereceu-lhe uma rara inteligência, aguçada astúcia, talento e engenho que a fizeram maior, sobrevivente.

Crente, generosa, amada, convicta e determinada, trilhou o seu caminho, defendeu as suas verdades, lutou pelas suas conquistas, enfrentou todos os que lhe tentaram provar, tantas vezes, que o seu caminho estava errado aos olhos de Deus e dos homens.
Afirmou-se numa sociedade que corria no sentido oposto ao da sua direcção. Descansou como fizeram, sempre, os grandes guerreiros da história, sem nunca desistir.

A candura com que reagiu, a tudo quanto a vida lhe quis oferecer, ficou-lhe marcada nas rugas que percorrem o seu rosto, onde prevalece, até hoje, o sorriso ou a lágrima emocionada.

Guiou os seus destinos, e os daqueles a quem ama, com a mestria própria das velhas matriarcas.  Fiel a si, leal ao que teme, respeitou o outro, por coerência e verdade, por decoro, ou simplesmente... por respeito.

Foi abrigo, conforto, colo, verdade e voz de comando. Foi luz na escuridão, foi bússola no desnorte, foi cúmplice nas lágrimas de dor, anfitriã das maiores comemorações.

Construiu-se, definiu-se, caiu e ergueu-se de tantos e tão penosos desafios, e voltou a ensinar-nos uma e outra vez, como tantas vezes gosta de acreditar "que Deus não mande aquilo que o corpo aguenta".

Nem a longevidade comparada às suas quase nove décadas seriam suficientes para lhe agradecer, para lhe retribuir, o que o seu olhar, as suas mãos, o seu sorriso, o seu amor me têm ensinado.

Décadas de lucidez, aprendizagem, verticalidade e candura estonteante que me me fazem apaixonar sempre que a luz do seu sorriso me ilumina a vida, a alma, o corpo.... até hoje.

É de amores maiores que nos alimentamos, é do amor que ensinou, a quem mo ensinou a mim, que dependo. É lá que me refugio, é lá que está o que de mais precioso tenho.

Tenho guardadas todas as histórias, todas as lendas, todos os momentos que continuamos a partilhar com o mesmo interesse, a mesma intensidade, o mesmo amor, consciente do privilégio que é poder ter-te ao meu lado.

E ainda que todas as palavras, de todos os poetas, de todos os tempos, sejam insuficientes para te retribuir tanto, "gastarei" o simples OBRIGADO, por toda a minha vida...

sábado, 10 de novembro de 2012

Uma noite...


Busco na noite
o som das palavras
a voz dos poetas
refugio perdido
ode sem sentido
que me dás no ácido
da tua boca, que quero beijar.

Não quero mais
Não quero ir
Não quero sentir
Não quero ser…
Sai de mim.

Quero mais de ti
quero mais do que tu
quero-me a mim,
nua, tua, entregue
ao acaso, à sorte,
ao vento, à morte
que me fazes desejar

Quero brindar a este amor
que não sabes ler
não consegues ver
na minha pele a transpirar

Magoas, feres, matas
por entre as palavras que não controlas
no meio da multidão que te ocupa
e te faz perder
de ti, ou de mim,
da razão ou do que não sabes dizer

Não quero mais,
não posso mais,
mereço mais do que o copo
por que me trocas na solidão desse corpo
onde me tens vazia de razão
de amor, de ti e de nós…

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Saudades do futuro

Saudades do futuro esquecido, do rosto perdido, do caminho adiado, da vontade abandonada à sorte e ao vento.

Saudades do futuro construído de sólidas incertezas, de vãos momentos, de rostos, vontades, medos, desejos…

Saudades do condão que entrego à vida, tornando-me escravo dos seus caprichos, criado silencioso das suas vontades, espectador inerte em todos os palcos.

Saudades do futuro que se esgotou, por tê-lo vivido, sentido, concretizado.

Saudades desse desconhecido momento em que deposito tudo o que existe em mim, fora de mim, ao meu redor e me invade, como ar que inspiro e me faz sentir, sorrir, viver…

Não é o passado que me dói, não são as memórias que me revisitam, não são âncoras que me prendem.

Não é do presente que fujo, não é hoje que me aterroriza, não é este agora, ainda que cheio de nada, que me sufoca o grito na garganta.

Não é o desconhecido, nem o escuro, nem a ilusão, nem o medo…

Não é nada, senão o futuro!

O futuro de que me falam, e eu não escuto.
O futuro que sei existir, mas não vejo.
O futuro que creio, mas não sinto.
O futuro… nessa forma de saudade.

sábado, 20 de outubro de 2012

Caminho

Suava a mágoa, nos olhos que transbordavam lágrimas que iam sendo, lentamente, empurradas por um sorriso que procurava o seu caminho, o lugar que não tinha por certo, o aconchego que duvidava poder encontrar no rosto trilhado pelo sal que ficara das lágrimas evaporadas.

Perdido e tímido, veio e foi ao sabor de tudo o que não entendeu, não questionou e aceitou como novo caminho que haveria de se clarear a cada passo

Inspirado por uma qualquer luz por que se sentiu invadido e pela frágil convicção de ter iniciado um doce caminho que não o levaria, mas que o traria de volta a si, mais certo e seguro do que, talvez, algum dia tenha estado.

Na mala, leva a esperança, o amor, a capacidade de perdão e auto-confiança e servir-se-á deles como munições ou escudos contra si mesmo, contra as barreiras que tenta erguer, atrás das coisas se habituou, já, a esconder-se.

E parte. Sem coragem, mas sem medo. Sem certeza, mas sem deixar que a dúvida o tome. Sem rumo, mas com fé no caminho. Sem querer, querendo, sentindo, deixando, caminhando...

E como leu, um dia, "parte, para estranhamente chegar", agarrado à sede de viver, e à inquietude de quem crê ser mais, esperando que este colo, que agora o aconchega, o leve onde quer chegar, ou até um pouco mais além do que o seu coração consegue ver...

domingo, 7 de outubro de 2012

"Para sempre..."


Não há “para sempre” como o que se sente e vive hoje. "Para sempre" é hoje, é presente e tem, no futuro, apenas a semântica das palavras.

É hoje que amamos, é hoje que desejamos, é hoje que queremos, é hoje que vivemos, é hoje que queremos que o tempo pare e perpetue tudo o que nos provoca a intensidade de querer “para sempre”.

“Para sempre” tem, nas palavras, uma perspectiva de fim que não sentimos quando desejamos que seja “para sempre… “

Não desejamos que acabe o que é bom, não queremos mudar o que sentimos que está bem, e isso… não é futuro, é presente.

Não é em fim que pensamos quando nos assalta, sem pedir licença, o pulsar do coração, o frio na barriga, a respiração ofegante, a falta de ar…

Não é a imagem do fim que nos assalta, nos enamorados momentos de felicidade, mas a de começo, de caminho, de construção.

A intensidade de querer “para sempre” ocupa-nos e preenche-nos demasiado, para nos preocuparmos com o amanhã… é aquilo nos oferecem hoje que queremos manter, em nós… não num futuro que desconhecemos, mas neste “agora” que vivemos e queremos viver.

“Para sempre” é a felicidade que nos invade agora, no gesto, no sorriso, no cheiro, no beijo, no olhar…

“Para sempre” é sentir e querer sentir mais…

“Para sempre” não é tempo… é sentimento…

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Outono


Já não sei se é em mim que me perco, ou simplesmente em todos os caminhos que fiz, sozinho, enquanto deambulava por sonhos e fantasias que aqui moravam, no meu peito, bem dentro de mim, e estavam reflectidas em todos os recantos que era capaz de ver, com este olhar obstinado e persistente… ou talvez demasiado crente, que se foi perdendo, nesta fusão de verdades e ilusões, mentiras e medos, dúvidas e retrocessos, onde construí os castelos que quis ver, e vi, erguidos…

Caem agora as primeiras folhas de um Outono menos dourado do que os costumeiros Outonos que, repetidamente, nos visitam.
Caem as pétalas das flores de mil cores, que as desnudam e as deixam, envergonhadas e expostas a tudo o que de mais verdade elas contêm.
Caem as lágrimas de chuva nas pontas das folhas resistentes, das árvores já semi-nuas.
Caem as máscaras que as estações passadas emprestaram às verdades que escondiam.
Caem os velhos ramos, mortos, que, ficando, castrariam a renovação.

Virão novos… no seu ritmo, no seu ciclo, no seu momento, ou simplesmente quando assim for.

Voltará, o que das eras passadas restou, a ter novos ramos, novas folhas, nova vida, novas cores, novos amores, novos apaixonados, novos sorrisos…

E assim é… no seu tempo, com um propósito, uma razão, com maior ou menor capacidade de resistir ao frio que nos assola a alma, sempre que a vida entende ensinar-nos o que tantas vezes não vemos e nos recusamos tão violentamente a aceitar, que nos renovamos… assentes na velha árvore que nos sustém, segura e protege para nos oferecer, mais à frente, as novas flores de mil cores por que tanto esperamos…

domingo, 15 de julho de 2012

Talvez...


Caiu o pano sobre um ciclo de felicidade. A cortina de uma história fechou-se de uma forma definitiva, uma história bonita que me fez muito feliz, a história de um recomeço que me fez rumar na direcção certa, a minha história.
Fecha-se hoje um capítulo da minha vida, que há-de dar lugar a outro. Deste, guardo a ternura de todos com quem tive o prazer de me cruzar, os sorrisos que partilhámos, o trabalho que construímos, aquilo em que acreditámos e principalmente a gratidão que sinto por tanto que recebi e, acredito, fui capaz de dar.
Não acredito em finais sem lágrimas, e há muito que os finais felizes me parecem longínquos e inalcançaveis, e este não foi excepção. Fica também a dor que a nostalgia me oferece, a dor do "adeus", as ausências que marcam um dia em que as gargalhadas deram, rapidamente, lugar às lágrimas... as da despedida, as que me marcam o rosto pela dor que senti ao sentir que acabou este percurso, as que me vem oferecendo a vida por deixar aberta a porta que as fazem correr, e não conseguir descobrir como calar os gritos de um coração que tenta fugir da realidade, mas sangra a cada momento de ausência.
Estou triste, dói-me o peito, cansa-me a alma por tudo o que sei que fica por fazer...

Talvez tenha chegado a altura de recolocar-me no primeiro lugar das minhas prioridades.
Talvez seja tempo de acreditar mais naquilo que sou, e naquilo que poderei ser.
Talvez seja a hora de voar sozinho, num vôo longo ou num simples salto em frente, para onde há mais e onde posso ser eu.
Talvez a vida esteja a dar-me mais do que consigo ver e sentir.
Talvez Dalai Lama tenha razão quando diz que, "por vezes não conseguir aquilo que queremos é um tiro de sorte"
Talvez seja este o tempo de crer, querer e aprender.
Talvez seja o tempo certo para partir... e esperar chegar.

Ainda que a vida me mostre caminhos estranhos, por onde o cansaço me pede para parar, ainda que tudo me pareça diferente ou pior daquilo com que sonho, ainda que os sonhos me pareçam tantas vezes tão distantes, ainda que a dor me tome, tantas vezes, conta do peito, eu caminharei, ainda que sem rumo ou direcção, e confiarei, como sempre, que a vida há-de mostrar-me por onde seguir para que eu continue com este sentimento bom de que, apesar de tudo, tenho mais a agradecer-lhe do que a reclamar dela, porque deixar de o sentir significa desistir de mim... e eu quero seguir sempre... nem que seja sozinho.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Encontro


É fácil e até comum dizermos ou ouvirmos dizer que tudo pode mudar num minuto, que tudo pode acontecer, ou que a vida pode mudar de um momento para o outro.
É fácil em alguns momentos, especialmente nos mais difíceis, chegarmos perto da verdadeira dimensão destas frases que tantas vezes usamos, mais por querermos acreditar nelas, do que naquilo que elas realmente nos fazem sentir... e eu não serei excepção.
E, naquele dia, não era expectável que nada mudasse. Não era sequer previsível que fosse diferente de tantos outros dias iguais a si mesmos, comuns a tantos outros. 
Haveria, como lugar comum, espaço para mim, para o trabalho, para os amigos, para a minha "criança", e para o que a vida me quisesse oferecer porque, tal como nos outros todos, a vida saberá sempre melhor do que eu o que de melhor há para sentir... E ofereceu.
Num dia igual, num lanche banal, num encontro fortuito que não ia além do interesse comum de uma disponibilidade mútua, aconteceu.
Aconteceu o que de mais especial existe no ser humano, o que de mais sublime temos para dar ao outro, o que de mais bonito se pode partilhar.
Da partilha nasceu a história que nos fez cúmplices, a magia das justificações que procuramos, o genuíno interesse de beber a experiência e a sabedoria do outro como se o mundo pudesse acabar ali e não pudéssemos perder o final daquela história que tinha acabado de nascer, e ainda tão curta já nos tinha dado tanto.
Quis esquecer o tempo e beber cada gota daquele momento, daqueles momentos, que a vida, num segundo, com uma troca de mensagens, horas antes quis que vivesse e sentisse, quis que percebesse e desse a perceber que há tanto em nós, humanos, de comum, que é inevitável que encontremos nos outros as nossas próprias respostas, que nos abracemos para que, juntos, ultrapassemos os medos e consigamos seguir, de olhos abertos, atentos a tudo, despertos ao que não controlamos, mas principalmente, disponíveis ao desconhecido porque é lá que mora também o nosso futuro, é lá que tantas vezes nos espera o sorriso que nos faz "acordar" e perceber o tanto de nós que está à nossa volta.
Passou a tarde e a noite, passaram as horas por nós, passaram dias desde que tudo nasceu, e nasceu em mim a certeza de que passarão muitos outros tempos contados nestas ou noutras medidas, onde partilharemos caminhos e histórias que ficarão connosco de forma indelével e que isso será a única coisa que não passará...e é tão bom!
Ainda que quisesse esquecer-me, a vida vai lembrando-me porque é tão precioso existir... Obrigado!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Numa terra chamada Felicidade!

Queria partir... para uma terra distante, onde ninguém soubesse o teu nome, onde não houvesse encontro, onde a tua presença não me assaltasse a tranquilidade que tantas vezes quero sentir, e que chego a acreditar que existe em mim.
Queria partir para uma terra que nem sei se existe, se é perto ou longe, ou se está aqui dentro à espera que me mude para lá.
Imagino-a de um azul profundo, com cheiro a mar, e sabor a frutas de mil cores. 
Imagino que lá não há dor, nem medo... As lágrimas são provocadas apenas pelo vento que nos acorda ou pelos sorrisos que nos oferecem.
Era lá que queria viver, era lá que me entregaria à vida sem medo deste deserto que se cultiva e alastra dentro de mim, e que me torna em algo que não conheço e não sei descrever.
É nessa terra distante que penso sempre que sinto longe o fim disto que não sei o que é, e por querer e crer tanto que ela existe, decidi chamar-lhe... Felicidade! É isso, Felicidade é o nome desse lugar mágico, onde nem todos chegarão, mas que é, para os corajosos, o lugar ideal para viver.
É lá que quero chegar um dia.... em breve, espero.
Houve um dia que fechei os olhos com força e consegui lá estar, sentir aquele cheiro.... e foi tão bom....mas... tu também lá estavas.
Fomos acordados pelos primeiros raios de sol, que visitaram o entrelaçado dos nossos corpos. Os teus beijos percorriam o meu pescoço, arrepiando a minha pele. 
Fui impedido de me levantar pelo teu sussurro a dizer "só mais um bocadinho", e pela força com que me prendias a ti... Enrolei os teus braços à minha volta, segurei-os com força e, de corpos colados, continuamos ali embalados pela força de um amor que nos fazia maiores...
Acordámos mais tarde, desta vez com a luz do sorriso que me beijava os lábios e me matava a sede de viver e, de cara colada ficámos a olhar no fundo do que os nossos olhos nos diziam, enrolados num abraço que fez o tempo parar e que fazia corar de inveja os casais mais apaixonados.
Unimo-nos num, fizemos amor, e continuámos a sugar-nos, a olhar-nos, a desejar que aquele momento fosse eterno, e que tudo fosse assim, tão perfeito como aquele momento... ou pelo menos, era assim que todas aquelas emoções vibravam dentro de mim...

Quando abri os olhos já não estavas ali, ao meu lado. Fiquei imóvel, agarrado ao cheiro que perpetuava a tua presença, até ter coragem para me levantar sem a protecção dos teus braços à volta do meu corpo... e percebi que esse lugar desaparecera contigo. Não porque o tenhas levado, mas porque só existe, em mim, contigo...

São precisos os nossos olhos, juntos, colados no mesmo horizonte para que essa terra se aproxime de nós, e nos preencha a alma com as mil cores com que é colorida.
São precisos quatro braços a remar na mesma direcção, com a força de querer chegar mais longe.
São precisas noites em claro, a falar de tudo e de nada.
São precisos dois corpos que se colam e se atraem.
São precisos dois corajosos
São precisas duas vontades

Foi a força do meu querer e não a força com que fechei os olhos que, naquele dia, me levou nesta viagem.
Afinal essa terra existe, e não fui eu que a inventei.
Afinal até já lá estive e foste tu que me levaste até lá.
Afinal está aqui bem perto... mas já não me pertence.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cartas de amor

Hoje li cartas... cartas de amor.
Daquelas que carregavam toda a expectativa de quem as esperava.
Daquelas que eram recebidas mesmo antes do carteiro tocar.
Daquelas que começavam sempre por "Meu amor".
Daquelas que contavam apenas com as palavras para transportar mar afora todo o amor que unia duas pessoas, e eram a única forma de encurtar a saudade.
Daquelas que se perfumavam para que, no fim de as ler, a pessoa a quem se destinavam pudesse prendê-las no peito, fechar os olhos, e sentir o outro mais perto.
Daquelas que nos deixam sem fôlego, só de as ler.

Eram elas que transportavam a saudade, a angústia, e muitas vezes, o desespero.
Eram elas que consolavam quem as escrevia na certeza de que chegariam ao seu destino, e que seriam lidas num misto de sorrisos e lágrimas, pelo tanto que traziam.

Corriam-me a mim, as lágrimas, por conseguir transportar-me para aqueles momentos de dor, que encontravam no amor que os unia, o único consolo e verdadeiro porto de abrigo que se transformava, no fim, na força de viver.

Percebi que esse amor, sobrevivente, nessas cartas, suportou as dores físicas e mentais provocadas pelo que os afastava.
Percebi, por isso, a força de amar... A capacidade de nos entregarmos ao amor como único refúgio diante do caos.
Percebi como é fácil amar, quando nos privam desse amor, e de tudo o resto.
Reaprendi, uma vez mais, que a vida não faz sentido sem amor.

Ficou-me, porém, a dúvida...
Porque é tão fácil amar na dor, e banalizar o amor quando ele nos é oferecido?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O amor não morre

Passaram dias de esperança, meses de lágrimas, tempos de espera, e outras tantas estações de frustração e angústia que assumi como eternas no dia em que pensei que desistira.
Para trás ficou a ingenuidade infantil, os sorrisos adolescentes e a cumplicidade que nos fazia tão especiais...
E assim seguimos, lado a lado, da melhor forma que os sofrimentos nos permitiram, construindo vidas e ilusões, casas e moradas, conquistas e derrotas, onde o único denominador comum continuava a ser a distância.
A saudade, essa, deixei de a ouvir quando a afoguei nas lágrimas que se esgotaram na imensidão da força com que acreditei que te tinha perdido para sempre...
E voltaram a passar tempos que não contei, histórias que não vivemos, e outros tantos momentos que a vida me foi oferecendo, onde a tua ausência era já habitual.
A viagem que julguei sem retorno chegou, um dia, ao fim, mas não para mim... A entrega, a cumplicidade, e até o amor que julguei ter morrido contigo nessa terra distante de onde eu não fazia parte, não seriam mais acordados do sono eterno a que os sentenciei. Era difícil ver e acreditar que a pessoa que partiu estava de volta, igual a si mesma, igual a mim e, principalmente tão fiel a nós.
Dúvida, medo, surpresa, foram os meus fieis companheiros nos dias que se seguiram ao fim da viagem, até ao dia em que, assaltado pela descrença, te vi sorrir...a TI, àquela pessoa sincera e transparente de alma pura e coração gigante que perdi de vista muitos anos antes.
E no mesmo instante, sem que pudesse pensar ou conter, o mesmo sorriso de menino toma-me, de assalto, o rosto, com a transparência que só às crianças é permitida.
E como uma onda que, de uma vez só, limpa todas as marcas na areia, volta a mim todo o amor que estava, tão somente, à espera que o libertasse e que o deixasse voar nestes corações que suportaram tudo quanto lhes foi designado, mas nunca desistiram um do outro.
Hoje, cada gesto, cada sorriso, cada valsa, cada lágrima, voltaram a ter o teu nome escrito pelo amor que não quis abandonar-nos, e por isso sou hoje mais feliz...voltou uma parte de mim que julguei esquecida...

AMO-TE MUITO!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

No baloiço dos sonhos


Não é possível que a vida me tenha trazido até aqui para depois me abandonar sem me ensinar o caminho de volta. 
Entrego-me às palavras dos poetas que sabem escrever o que eu não sei sentir… e bebo de um trago todos os poemas que me afogam nesta dor a que me acostumo, e que começa a fazer parte de mim. Estranho destino que me leva para ela como um porto seguro, e me faz acreditar que é reconfortante, de tanto que dói.
O fado adormece todos os sentimentos que me provoca esta nova morada, e as lágrimas que me provoca lavam-me a alma, como se tudo fosse arrastado pela corrente dos meus olhos, para um lugar onde não esqueço e não mais sentirei.
O amanhecer volta a invadir-me de todas as coisas que não fiz, não vivi, não disse… e de novo, a sede volta aos meus lábios que anseiam saciar-se nos teus, como naquele sonho de onde acabo de vir, e percebo que voltei ao início da estrada que anda em círculos e de onde não consigo sair.
Se conseguisse, ao menos, odiar-te, se conseguisse, ao menos, querer-te longe… mas não quero e não consigo... Faltas-me, falto-me, não me chego, assim, vazio de alma e de esperança, neste baloiço que me embala a vontade e os sentidos…

sábado, 2 de junho de 2012

Até que a vida queira...


Falo, sinto, desabafo e escrevo… Não espero que as minhas palavras ecoem, não sei se quero que as conheças... A elas, e ao tanto que elas carregam, ao tanto que lhes tento transmitir sempre que transbordo tudo o que em mim existe.
Por mais que me esforce, de nada adianta. São sempre poucas, vãs e vazias todas as frases que construo em mim, e partilho comigo ou com os outros. Ninguém, como tu, consegue descrever a imensidão do que em mim se passa.
Em cada palavra, em cada vírgula, em cada frase está latente a vida que acontece em mim. Em cada descrição, em cada momento de dor, em cada mágoa transcrita, em cada lágrima, voltamos a estar juntos, num capítulo em que as personagens se invertem, subvertem e se transformam, mas onde a história se repete. Lá, nessas palavras que se perpetuam em mim e em ti, gritam os sentimentos que partilhamos, o caminho que nos mantém paralelos, a verdade das histórias que nos afastam.
E é esta dor que me provoca todas as dúvidas do universo. Porque temos que sofrer do mesmo amor em vez de o partilharmos e vivermos? Porque temos que caminhar no mesmo sentido, quando sabemos que ele só nos leva à dor e ao sofrimento? Essa dor e esse sofrimento que nos tentam e nos conquistam de uma forma irresistível e onde queremos permanecer como se deles esperássemos algo mais…
Haverão outros, como dizes… Não sei se mais ou menos exclusivos, não sei se mais ou menos especiais, não sei se mais ou menos importantes. Sei, porém, que me levantarei, erguer-me-ei deste inferno onde me fizeste descer, aonde não pertenço, e seguirei, com maior ou menor dificuldade, com mais ou menos lágrimas, com mais ou menos rumo… e é por esse momento que anseio e espero.
Até lá resta-me esperar, sentado em cima desta mágoa que me revisita todas as noites, bebendo as tuas palavras como se fossem minhas, aceitando, quase inerte, a força desta dor que partilhamos, até que a vida queira e eu consiga voltar a ser feliz…

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Estreia...é hoje!

É hoje!
O pano volta a abrir-se, o palco volta a estar por baixo dos meus pés, o público lá estará sentado à espera de viajar até onde os consiga levar.
O frio na barriga regressa, as dúvidas assaltam-me, o medo assombra-me e mais uma vez questiono a capacidade de estar à altura da honrosa profissão que escolhi.
Esta será a primeira estreia em que me prometeste estar presente, e a força da minha condição obriga-me a acreditar que estarás... ironicamente, é nesta que mais sinto a tua falta.
Não da presença, não da gargalhada, não da crítica, que essas estarão lá se outros sorrisos não te levarem para uma viagem mais desconcertante. Mas de ti, de ti inteiro, de ti "meu", daquele sorriso que me enternecia a alma, inebriava os sentidos, me embebedava de felicidade, e me oferecia novos sentimentos a cada instante.
É essa ausência, disfarçada pelos breves momentos dos nadas que me dás, que me rasga a cada fotografia, a cada silêncio, a cada gesto, a cada recordação.
Não quero aceitar-me assim, não gosto de me sentir tão pouco e muito menos, aceitar a dor que me provoca esta passividade a que me habituei, por me contentar com tão pouco.
Talvez nunca consiga deixar registo do quanto te amo, talvez nunca to consiga explicar, talvez tu nem queiras saber.

É hoje, o dia que tanto esperei.
É hoje, o dia em que subo ao palco, onde quero morrer.
É hoje, que te amo mais do que alguma vez soube ser capaz.

Era hoje, o dia que terminaria, brindado de sorrisos.
Era hoje o dia em que o mundo saberia que a felicidade tinha chegado para ficar.
Era hoje o dia em que o meu trabalho e o meu amor por ti me fariam morrer feliz.

Será hoje, talvez, um dos dias mais duros da minha vida, por não te ter aqui quando mais preciso.

sábado, 19 de maio de 2012

De volta ao mesmo lugar...


Cai o pano e, com o fim do espectáculo o mar revolto volta a transbordar os meus olhos, arrastando nas ondas todas as marcas que ainda restavam daquela vida a que emprestei a minha, em cima do palco.
Os aplausos inebriam, por escassos segundos, a consciência de que voltei ao estranho caminho para onde me mudei, e que retomo rigorosamente do mesmo lugar onde fiquei, horas antes.
Volto a olhar pela janela, porque sei que estás ali, a percorrer a mesma sinuosa estrada por onde me tenho perdido.
Unem-nos os mesmos socalcos, a mesma dor. Também segues na direcção dos teus desejos, atrás dele.
E eu, percorro o caminho que sei que nunca me levará a ti, mas percorrendo-o, posso continuar a ver-te, a sentir-te, a compreender-te e a seguir de perto esta dor que partilhamos, com a dura consciência de que nunca nos encontraremos porque não seguimos na direcção do encontro.
É amarga a neblina que me tapa a cada vez mais a visão, e me rouba a imagem do teu rosto, apesar de saber que continuas aí a andar na mesma direcção. E talvez por isso, ou por acalentar a esperança de voltar a cruzar-me contigo nesse espaço de onde me excluíste, eu continuarei a andar nesta estrada de pregos, que de tanto me magoar, me aproxima de ti.
E por cá continuarei...até te encontrar, ou até perder-me de mim...
Até lá, volto a adormecer abraçado à noite que te trará, uma vez mais de volta.
E sorrirei de novo, nos teus braços, até que o primeiro raio de sol te volte a roubar de mim...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Tanto por tão pouco



É pronta a desculpa de quem nos quer bem.
É fácil a resposta que justifica tudo e nada, nos ilude e os ilude, numa não resposta que não nos oferece o aconchego que o coração nos implora.
Lições, perspectivas, aprendizagens, crescimento...
E eu? Alguém me perguntou se queria aprender ou crescer? Perspectivar ou mudar a perspectiva confortável?
Não quero, nunca quis.
Deixei sempre que algo maior do que eu me guiasse, acreditei que a vida tomaria melhor conta de mim do que eu próprio, deixei que os sorrisos e as lágrimas fizessem o seu caminho no meu rosto... E fui feliz com tudo o que me foi oferecido sem pedir mais.
Até agora!
Não são as aprendizagens que nada ensinam, ou as perspectivas que nada mudam que me confortam.
Não é de lições que sinto falta...É de AMOR!
Desse amor em que o teu sorriso me fez acreditar, do amor que estava em cada longa noite de sexo, em cada gesto, em cada olhar, em cada palavra que repetíamos, vezes sem conta, em uníssono, em cada projecto que acreditámos juntos, em cada discussão.
Não quero aprender, não quero fugir, não quero que saias daqui.
Quero-te, desejo-te perto de mim, dentro de mim, a encher-me a alma e o corpo numa dança que era só nossa... e que tu quiseste esquecer como se dançava.
Não aceito, não quero, não consigo desistir daquilo que mais desejo.
Não acredito que tanta vida se esvaia em tão frágeis teorias de fracas conquistas.
Não quero saber qual é a decisão certa.
Não quero saber como deve ser.
Quero voltar a sentir como sentia, quero voltar a ter o tanto que me deste
Quero que me ames. Quero amar. Quero amar-te.
Posso?

terça-feira, 15 de maio de 2012

Para onde me levaste?


                        


Chega! 
É esta a palavra que chamo dias e noites a fio e que teima em fugir de mim. 
É esta a palavra que desejo ardentemente. É esta a palavra que deixará de o ser, um dia… um dia! 
Sofro por não tê-la como sentimento profundo, rasgo-me por dentro à procura do seu significado, mas não o encontro, embebedo-me em mentiras que me fazem acreditar que voltarás e perco-me no caminho que todos me dizem para seguir… Porque não chega, não me chega. 
Não me chega a vida sem ti, não me chega o que tenho, não me chega saber-te bem, não me chega sequer este amor que me invadiu sem que lhe tivesse aberto a porta, não me chegam todos os outros, não me chegam as noites quentes e os dias de sol, não me chegam os sorrisos que me oferecem, não chega ser simplesmente importante para ti, não chega a hora em que te arrancarei para sempre de dentro de mim, não chegam sequer os eufemismos que usas e que só dentro de mim ecoam como verdades…. Não chega, não chega, não chega… 
Quero cansar-me de ti, quero suar todo este sofrimento que me ofereceste no dia em que partiste, quero sufocar nas lágrimas que me provocas, quero odiar-te e querer-te longe, quero que saias de dentro de mim, quero mas não consigo. 
Em que recanto do meu coração, plantaste esta semente que me envenena e destrói? Para onde levaste a minha alma que não sabe voltar ao mesmo lugar? 
Devolve-me o que é meu, abandona-me de vez, sai desse lugar que não devia pertencer-te… 
Preciso de ti, mais uma vez, para sair deste lugar onde nunca estive. 
Tenho medo de não mais encontrar o caminho para onde sempre vivi, o lugar seguro que a vida me ofereceu e TU me roubaste. 
Ajuda-me, por favor… 
Ajuda-me a sentir que chega, ajuda-me a cansar-me de ti…

Voltou?


Voltou…de forma tímida e quase translucida. A muitos pareceu falso ou erróneo, a mim soou-me primeiro a vitória. Não voltou por vontade própria, mas pela busca incessante dos amigos, que o sabiam vivo, por entre os caixotes de memórias acumuladas, entre os escombros que representam os restos mortais de uma passado que foi, mas continua vivo em mim, desperto como se fosse a mais actual notícia que a todos acorda, em sobressalto, como a melhor que ouvimos nos últimos treze anos. E é sob esta pressão e com grande responsabilidade que, com a timidez e solenidade que o momento lhe exige, lá se vai destapando de todos os que o encobriram ao longo deste tempo… Não sabe a quem se dirige, nem sequer se existe alguém a quem se dirigir. Não sabe como se comportar diante da verdade dos seus pares…sabe, porém que não é puro, não é completamente real e, por isso, tenta fugir do rosto onde lhe disseram que deveria tomar sua morada. Não sabe como comportar-se diante de uma multidão julgadora que questiona de forma veemente a sua presença, tem vergonha de si próprio… Sabe que amanhã, senão antes, não mais existirá… Então para quê mostrar-se a todos os que amanhã não mais o reconhecerão? Para quê oferecer gritos de vitória a todos os que tanto o buscaram e não mais o encontrarão? Para quê iludir tantos que nele acreditaram e que ao nascer do sol perceberão que um sorriso é muito mais do que a conjugação perfeita de um posicionamento muscular?

Dói!

O corpo doi, a alma grita, a cabeça voa para um passado recente que de tanto me fazer feliz, me faz, hoje, chorar… As lágrimas queimam-me o rosto no compasso certo em que arde também o coração em chamas ateadas pela tua ausência. Mentiram-me… disseram-me que o tempo curaria a dor e diminuiria a sensação de vazio. Mentiram-me, o vazio aumenta a cada dia, alastrando-se para um espaço cada vez maior, que nunca foi de ninguém e que não quiseste para ti… Desespero é a palavra que me ocorre para descrever a ausência de futuro que me ofereceste