Falo, sinto, desabafo e escrevo… Não espero que as minhas
palavras ecoem, não sei se quero que as conheças... A elas, e ao tanto que elas
carregam, ao tanto que lhes tento transmitir sempre que transbordo tudo o que
em mim existe.
Por mais que me esforce, de nada adianta. São sempre poucas,
vãs e vazias todas as frases que construo em mim, e partilho comigo ou com os
outros. Ninguém, como tu, consegue descrever a imensidão do que em mim se
passa.
Em cada palavra, em cada vírgula, em cada frase está latente
a vida que acontece em mim. Em cada descrição, em cada momento de dor, em cada
mágoa transcrita, em cada lágrima, voltamos a estar juntos, num capítulo em que
as personagens se invertem, subvertem e se transformam, mas onde a história se
repete. Lá, nessas palavras que se perpetuam em mim e em ti, gritam os
sentimentos que partilhamos, o caminho que nos mantém paralelos, a verdade das
histórias que nos afastam.
E é esta dor que me provoca todas as dúvidas do universo.
Porque temos que sofrer do mesmo amor em vez de o partilharmos e vivermos?
Porque temos que caminhar no mesmo sentido, quando sabemos que ele só nos leva
à dor e ao sofrimento? Essa dor e esse sofrimento que nos tentam e nos
conquistam de uma forma irresistível e onde queremos permanecer como se deles esperássemos
algo mais…
Haverão outros, como dizes… Não sei se mais ou menos
exclusivos, não sei se mais ou menos especiais, não sei se mais ou menos
importantes. Sei, porém, que me levantarei, erguer-me-ei deste inferno onde me
fizeste descer, aonde não pertenço, e seguirei, com maior ou menor dificuldade,
com mais ou menos lágrimas, com mais ou menos rumo… e é por esse momento que
anseio e espero.
Até lá resta-me esperar, sentado em cima desta mágoa que me
revisita todas as noites, bebendo as tuas palavras como se fossem minhas, aceitando,
quase inerte, a força desta dor que partilhamos, até que a vida queira e eu
consiga voltar a ser feliz…
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