quinta-feira, 31 de maio de 2012

Estreia...é hoje!

É hoje!
O pano volta a abrir-se, o palco volta a estar por baixo dos meus pés, o público lá estará sentado à espera de viajar até onde os consiga levar.
O frio na barriga regressa, as dúvidas assaltam-me, o medo assombra-me e mais uma vez questiono a capacidade de estar à altura da honrosa profissão que escolhi.
Esta será a primeira estreia em que me prometeste estar presente, e a força da minha condição obriga-me a acreditar que estarás... ironicamente, é nesta que mais sinto a tua falta.
Não da presença, não da gargalhada, não da crítica, que essas estarão lá se outros sorrisos não te levarem para uma viagem mais desconcertante. Mas de ti, de ti inteiro, de ti "meu", daquele sorriso que me enternecia a alma, inebriava os sentidos, me embebedava de felicidade, e me oferecia novos sentimentos a cada instante.
É essa ausência, disfarçada pelos breves momentos dos nadas que me dás, que me rasga a cada fotografia, a cada silêncio, a cada gesto, a cada recordação.
Não quero aceitar-me assim, não gosto de me sentir tão pouco e muito menos, aceitar a dor que me provoca esta passividade a que me habituei, por me contentar com tão pouco.
Talvez nunca consiga deixar registo do quanto te amo, talvez nunca to consiga explicar, talvez tu nem queiras saber.

É hoje, o dia que tanto esperei.
É hoje, o dia em que subo ao palco, onde quero morrer.
É hoje, que te amo mais do que alguma vez soube ser capaz.

Era hoje, o dia que terminaria, brindado de sorrisos.
Era hoje o dia em que o mundo saberia que a felicidade tinha chegado para ficar.
Era hoje o dia em que o meu trabalho e o meu amor por ti me fariam morrer feliz.

Será hoje, talvez, um dos dias mais duros da minha vida, por não te ter aqui quando mais preciso.

sábado, 19 de maio de 2012

De volta ao mesmo lugar...


Cai o pano e, com o fim do espectáculo o mar revolto volta a transbordar os meus olhos, arrastando nas ondas todas as marcas que ainda restavam daquela vida a que emprestei a minha, em cima do palco.
Os aplausos inebriam, por escassos segundos, a consciência de que voltei ao estranho caminho para onde me mudei, e que retomo rigorosamente do mesmo lugar onde fiquei, horas antes.
Volto a olhar pela janela, porque sei que estás ali, a percorrer a mesma sinuosa estrada por onde me tenho perdido.
Unem-nos os mesmos socalcos, a mesma dor. Também segues na direcção dos teus desejos, atrás dele.
E eu, percorro o caminho que sei que nunca me levará a ti, mas percorrendo-o, posso continuar a ver-te, a sentir-te, a compreender-te e a seguir de perto esta dor que partilhamos, com a dura consciência de que nunca nos encontraremos porque não seguimos na direcção do encontro.
É amarga a neblina que me tapa a cada vez mais a visão, e me rouba a imagem do teu rosto, apesar de saber que continuas aí a andar na mesma direcção. E talvez por isso, ou por acalentar a esperança de voltar a cruzar-me contigo nesse espaço de onde me excluíste, eu continuarei a andar nesta estrada de pregos, que de tanto me magoar, me aproxima de ti.
E por cá continuarei...até te encontrar, ou até perder-me de mim...
Até lá, volto a adormecer abraçado à noite que te trará, uma vez mais de volta.
E sorrirei de novo, nos teus braços, até que o primeiro raio de sol te volte a roubar de mim...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Tanto por tão pouco



É pronta a desculpa de quem nos quer bem.
É fácil a resposta que justifica tudo e nada, nos ilude e os ilude, numa não resposta que não nos oferece o aconchego que o coração nos implora.
Lições, perspectivas, aprendizagens, crescimento...
E eu? Alguém me perguntou se queria aprender ou crescer? Perspectivar ou mudar a perspectiva confortável?
Não quero, nunca quis.
Deixei sempre que algo maior do que eu me guiasse, acreditei que a vida tomaria melhor conta de mim do que eu próprio, deixei que os sorrisos e as lágrimas fizessem o seu caminho no meu rosto... E fui feliz com tudo o que me foi oferecido sem pedir mais.
Até agora!
Não são as aprendizagens que nada ensinam, ou as perspectivas que nada mudam que me confortam.
Não é de lições que sinto falta...É de AMOR!
Desse amor em que o teu sorriso me fez acreditar, do amor que estava em cada longa noite de sexo, em cada gesto, em cada olhar, em cada palavra que repetíamos, vezes sem conta, em uníssono, em cada projecto que acreditámos juntos, em cada discussão.
Não quero aprender, não quero fugir, não quero que saias daqui.
Quero-te, desejo-te perto de mim, dentro de mim, a encher-me a alma e o corpo numa dança que era só nossa... e que tu quiseste esquecer como se dançava.
Não aceito, não quero, não consigo desistir daquilo que mais desejo.
Não acredito que tanta vida se esvaia em tão frágeis teorias de fracas conquistas.
Não quero saber qual é a decisão certa.
Não quero saber como deve ser.
Quero voltar a sentir como sentia, quero voltar a ter o tanto que me deste
Quero que me ames. Quero amar. Quero amar-te.
Posso?

terça-feira, 15 de maio de 2012

Para onde me levaste?


                        


Chega! 
É esta a palavra que chamo dias e noites a fio e que teima em fugir de mim. 
É esta a palavra que desejo ardentemente. É esta a palavra que deixará de o ser, um dia… um dia! 
Sofro por não tê-la como sentimento profundo, rasgo-me por dentro à procura do seu significado, mas não o encontro, embebedo-me em mentiras que me fazem acreditar que voltarás e perco-me no caminho que todos me dizem para seguir… Porque não chega, não me chega. 
Não me chega a vida sem ti, não me chega o que tenho, não me chega saber-te bem, não me chega sequer este amor que me invadiu sem que lhe tivesse aberto a porta, não me chegam todos os outros, não me chegam as noites quentes e os dias de sol, não me chegam os sorrisos que me oferecem, não chega ser simplesmente importante para ti, não chega a hora em que te arrancarei para sempre de dentro de mim, não chegam sequer os eufemismos que usas e que só dentro de mim ecoam como verdades…. Não chega, não chega, não chega… 
Quero cansar-me de ti, quero suar todo este sofrimento que me ofereceste no dia em que partiste, quero sufocar nas lágrimas que me provocas, quero odiar-te e querer-te longe, quero que saias de dentro de mim, quero mas não consigo. 
Em que recanto do meu coração, plantaste esta semente que me envenena e destrói? Para onde levaste a minha alma que não sabe voltar ao mesmo lugar? 
Devolve-me o que é meu, abandona-me de vez, sai desse lugar que não devia pertencer-te… 
Preciso de ti, mais uma vez, para sair deste lugar onde nunca estive. 
Tenho medo de não mais encontrar o caminho para onde sempre vivi, o lugar seguro que a vida me ofereceu e TU me roubaste. 
Ajuda-me, por favor… 
Ajuda-me a sentir que chega, ajuda-me a cansar-me de ti…

Voltou?


Voltou…de forma tímida e quase translucida. A muitos pareceu falso ou erróneo, a mim soou-me primeiro a vitória. Não voltou por vontade própria, mas pela busca incessante dos amigos, que o sabiam vivo, por entre os caixotes de memórias acumuladas, entre os escombros que representam os restos mortais de uma passado que foi, mas continua vivo em mim, desperto como se fosse a mais actual notícia que a todos acorda, em sobressalto, como a melhor que ouvimos nos últimos treze anos. E é sob esta pressão e com grande responsabilidade que, com a timidez e solenidade que o momento lhe exige, lá se vai destapando de todos os que o encobriram ao longo deste tempo… Não sabe a quem se dirige, nem sequer se existe alguém a quem se dirigir. Não sabe como se comportar diante da verdade dos seus pares…sabe, porém que não é puro, não é completamente real e, por isso, tenta fugir do rosto onde lhe disseram que deveria tomar sua morada. Não sabe como comportar-se diante de uma multidão julgadora que questiona de forma veemente a sua presença, tem vergonha de si próprio… Sabe que amanhã, senão antes, não mais existirá… Então para quê mostrar-se a todos os que amanhã não mais o reconhecerão? Para quê oferecer gritos de vitória a todos os que tanto o buscaram e não mais o encontrarão? Para quê iludir tantos que nele acreditaram e que ao nascer do sol perceberão que um sorriso é muito mais do que a conjugação perfeita de um posicionamento muscular?

Dói!

O corpo doi, a alma grita, a cabeça voa para um passado recente que de tanto me fazer feliz, me faz, hoje, chorar… As lágrimas queimam-me o rosto no compasso certo em que arde também o coração em chamas ateadas pela tua ausência. Mentiram-me… disseram-me que o tempo curaria a dor e diminuiria a sensação de vazio. Mentiram-me, o vazio aumenta a cada dia, alastrando-se para um espaço cada vez maior, que nunca foi de ninguém e que não quiseste para ti… Desespero é a palavra que me ocorre para descrever a ausência de futuro que me ofereceste