domingo, 23 de junho de 2013

Palavras

Arde-me a voz, dos gritos mudos presos na garganta.
Ardem-me as veias por onde o sangue me queima.
Arde em mim um fogo lento que me desfia e reduz a cinzas.
Ardo imóvel, na inquietude do que sou, e do que serei.

Incendeio o mar que tenta acalmar-me a cada alvorada.
Corro, fugindo de mim, deste fogo, desta realidade que se consome, que arde, que me foge.

Queimo as palavras que não disse, rasgos as cartas que não escrevi, calo os gritos que não dei, bebo o amor que se esgotou, e nele me debruço a observar este reflexo de espera fingida, de incondicionalidade escondida, de transparência opaca, de decisões requentadas e servidas frias, numa obstinada hóstia que me deixa estre trago amargo, queimado, gasto e me arranha a língua para que não se solte por entre o fogo e ganhe a liberdade que não lhe confiro.

Numa travessa, numa esquina, onde o fogo maior me consumir. É lá, sim, que me encontro... Comigo e com as palavras que não leio e não digo para que a vida não lhes sopre e o vento as não leve para onde as possam ouvir...