quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Não sou pai... Mas sou filho!

Não foi sempre fácil, não foi sempre simples, não foi sempre linear. Mas foi sempre amor. Talvez em alguns momentos tenha sido um amor que não cura e que tenta proteger na direcção que acharam certa, melhor, a que menos sofrimento causava. Mas nunca foi castrador.
Discordamos muitas vezes, mas nunca batemos com a porta definitivamente, discutimos outras tantas, sem nunca perder de vista o essencial: o amor. Fomos, somos e seremos uma família. Fomos, somos e seremos uma unidade, uma sociedade que aprendemos a construir na e com a diferença. E hoje, passados tantos caminhos, tantas opiniões trocadas, tantos assuntos debatidos gozamos, há já algum tempo, o que de melhor o amor pode construir entre nós: o respeito TOTAL pelas opções uns dos outros. 

Sou um privilegiado. Tenho uns pais que me aceitam, respeitam e apoiam de forma absolutamente incondicional. Certamente, eu próprio também tive muita dificuldade em ver isto, com esta clareza e, por tê-lo feito mais tarde, só perdi eu por não ter sentido e agradecido há mais tempo este privilégio, este amor, este suporte, este refúgio. Nunca lhes agradecerei demasiado, porque serão sempre poucas as vezes, comparado com tanto que me deram e continuam a dar todos-os-dias.

É, talvez por isto, que lamento que este não seja um privilégio de TODOS os filhos e filhas. Viemos ao mundo para nos amarmos, para nos respeitarmos, e para cuidarmos uns dos outros. Não viemos, certamente, com o propósito de impor gostos, preferências, caminhos e estradas únicas, pela simples razão de que elas não existem. Não há um, há todos. Não é assim, é como sentirmos. Não é errado, é como é. Os filhos não são propriedade, não são um bem. Os filhos, os pais, os avós, os tios, os amigos são pessoas. Individuais. Com personalidade e vontade própria. Com sonhos e ambições tão legítimas como as de qualquer outro pai, mãe, tio, avó, pessoa... Caberá aos pais e mães, dizer aos filhos e filhas o que acham melhor, tanto cabe aos últimos poder escolher, livremente o seu modelo de felicidade. Tenho assistido, mais do que gostaria, em diversas famílias, a modelos impostos, a pressões, a chantagens, a supostas regras que, invariavelmente, conduzem à mágoa, ao ressentimento e, no limite, à infelicidade. E, por isso mesmo, este ano os meus votos de ano novo são um pedido, sincero, de coração, a todos os pais e mães que se permitam a sentir, desta forma incondicional, o amor aos seus filhos. Continuem a cuidar deles, mas permitam que sejam eles a fazer as suas escolhas. Garanto-vos, por experiência própria, que ficarão ainda mais orgulhosos das vossas famílias e do amor que as rege.

2015 foi um ano duro, com vários desafios, momentos bastante complicados. Não consigo imaginar o tormento que teria sido suportar isto sem TODO o AMOR que me rodeou. Obrigado a todos os que estiveram, uma vez mais, de forma inabalável ao meu lado. 

Aos meus pais, obrigado por me respeitarem tanto e apoiarem, incondicionalmente, todas as minhas decisões (mesmo aquelas de que discordam profundamente).

Aos meus irmãos, Amo-vos mais do que vos sei dizer.

Ao meu amor, obrigado por me fazeres acreditar.

À minha avó, obrigado não chega, por isso continuarei a homenagear-te todos os dias da minha vida.

Apesar das dores, e dos desafios, sou FELIZ!

E que a vida e o universo nos dêem sempre uma maior capacidade de amar.
Amem-se, incondicionalmente, por favor!
Feliz 2016. Feliz vida.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Viver (com o coração)

Chegaste de rompante sem ser esperado ou talvez, até, desejado. Trazias a cobrir-te um manto de estrelas que te iluminavam o coração em ferida, desconcertado pelas incertezas. Esse coração que ansiava o porto de abrigo que te fizesse, ainda por breves instantes, acreditar que não existem dores eternas ou, quem sabe, que a que te consumia não era real. Refugiaste-te nos silêncios, agarraste-te ao calor das palavras, dos gestos, da partilha muda, do abraço. Desejaste-o eterno, assim mesmo, com a pureza e verdade com que o conquistaras. Afinal o frio não era eterno, a dor não era real, e talvez te mostrasse a vida que "o avesso é o lado certo". 
A angústia que te ficou presa, num grito mudo, parecia agora mais leve e a certeza de que mais cedo ou mais tarde desapareceria, foi chegando pelo sorriso tímido das palavras que não dissemos. Não precisámos.
Voamos de silêncio em silêncio, de sorriso em sorriso, e deixamos falar os sentidos, a verdadeira vida, a essência, o instinto... Escorreu do corpo o medo, a dúvida, a incerteza sobre o amanhecer tão próximo. E mais sorrisos, mais verdade, mais de ti, de mim, de um nós que parecia construir-se, mais emoções que nos atravessaram e nos trespassaram. Guardámos tudo, e levámos na bagagem, cada vez mais cheia, todas as sensações que nos assaltavam. A viagem começou sem nos apercebermos e já não queríamos voltar atrás.
Sonhámos mundos, vivemos vidas, partilhámos as mais profundas verdades, as infinitas certezas e incertezas que assolam os corações e as almas dos que ousam querer viver. Construímos vidas eternas, caminhos longos em estradas de mil cores, perfumadas pelas essências dos nossos corpos que se fundiam nas mais belas danças de amor.
Não percebíamos, mas não precisávamos, não queríamos. Agora era assim, e o universo sabia. E nós também. Tudo o que nos bastava para continuar a ousar viver.
Sonhei-te em momentos eternos, inteiros, plenos de vida e de mim. De entrega, das mil cores que conhecemos e contruí em mim essas novas vidas e tantas novas entregas. A certeza reergue-se a cada segundo de verdadeira vida, coberta de plenitude e de verdade, em conexão comigo, com o mundo, com o universo. Mesmo quando dói.
As portas do meu coração não fecham, não prendem, não amarram e é, certamente, por isso que ele não desiste de me fazer mais inteiro, mais feliz em todos os momentos, mesmo que sejam tão somente isso... momentos. Que o sejam, mas que o sejam sempre assim. Aceitarei sempre, a sorrir, todos as oportunidades de relembrar que estou vivo, que sinto, que desejo.
O teu coração está quente, agora. A noite fria, o manto de estrelas desapareceu e deu lugar a um céu bordado a diamantes, onde se tocam as mais belas canções que aprendemos juntos. 
Voa para onde te leve o coração. Ele está pronto para voltar a sangrar. Ele voltou a viver!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Lágrimas

Hoje quero chorar... ou não quero, choro apenas. Soltam-se lágrimas que escorrem vida. Profunda. Verdadeira. Autêntica... e por isso aceito-as. São minhas, fazem parte desta verdade que me invade e explora a cada novo amanhecer.
Não é dor, nem sofrimento. São lágrimas,apenas. Lágrimas que não entendo hoje, agora, aqui,mas que aceito. Porque me lavam a alma, porque me ensinam, falam comigo, guiam-me no silêncio da noite, espelham o que de mais intenso tenho, refletem a profundidade de onde quero chegar, o mais longínquo recanto que quero conhecer. Trazem o sabor das emoções, a frescura de tantos sorrisos, a verdade de tantas e tão belas trocas de olhares, a nostalgia da memória, a verdade das histórias... da minha história.
Recebo-as, aceito-as, integro-as em mim, no meu mundo, neste pedaço de universo onde busco, tantas vezes, refúgio, conhecimento, compreensão, amor... Sim, amor. Aquele em que nascemos, aquele que nos forma e faz melhores e mais inteiros. Mais fiéis a nós e aos outros.
E o melhor de tudo isto, é a paz e a serenidade de as receber assim... com esta honestidade cristalina.
Hoje quero chorar. Sem dor, nem sofrimento, nem mágoa. Quero, simplesmente, chorar.