sábado, 20 de outubro de 2012

Caminho

Suava a mágoa, nos olhos que transbordavam lágrimas que iam sendo, lentamente, empurradas por um sorriso que procurava o seu caminho, o lugar que não tinha por certo, o aconchego que duvidava poder encontrar no rosto trilhado pelo sal que ficara das lágrimas evaporadas.

Perdido e tímido, veio e foi ao sabor de tudo o que não entendeu, não questionou e aceitou como novo caminho que haveria de se clarear a cada passo

Inspirado por uma qualquer luz por que se sentiu invadido e pela frágil convicção de ter iniciado um doce caminho que não o levaria, mas que o traria de volta a si, mais certo e seguro do que, talvez, algum dia tenha estado.

Na mala, leva a esperança, o amor, a capacidade de perdão e auto-confiança e servir-se-á deles como munições ou escudos contra si mesmo, contra as barreiras que tenta erguer, atrás das coisas se habituou, já, a esconder-se.

E parte. Sem coragem, mas sem medo. Sem certeza, mas sem deixar que a dúvida o tome. Sem rumo, mas com fé no caminho. Sem querer, querendo, sentindo, deixando, caminhando...

E como leu, um dia, "parte, para estranhamente chegar", agarrado à sede de viver, e à inquietude de quem crê ser mais, esperando que este colo, que agora o aconchega, o leve onde quer chegar, ou até um pouco mais além do que o seu coração consegue ver...

domingo, 7 de outubro de 2012

"Para sempre..."


Não há “para sempre” como o que se sente e vive hoje. "Para sempre" é hoje, é presente e tem, no futuro, apenas a semântica das palavras.

É hoje que amamos, é hoje que desejamos, é hoje que queremos, é hoje que vivemos, é hoje que queremos que o tempo pare e perpetue tudo o que nos provoca a intensidade de querer “para sempre”.

“Para sempre” tem, nas palavras, uma perspectiva de fim que não sentimos quando desejamos que seja “para sempre… “

Não desejamos que acabe o que é bom, não queremos mudar o que sentimos que está bem, e isso… não é futuro, é presente.

Não é em fim que pensamos quando nos assalta, sem pedir licença, o pulsar do coração, o frio na barriga, a respiração ofegante, a falta de ar…

Não é a imagem do fim que nos assalta, nos enamorados momentos de felicidade, mas a de começo, de caminho, de construção.

A intensidade de querer “para sempre” ocupa-nos e preenche-nos demasiado, para nos preocuparmos com o amanhã… é aquilo nos oferecem hoje que queremos manter, em nós… não num futuro que desconhecemos, mas neste “agora” que vivemos e queremos viver.

“Para sempre” é a felicidade que nos invade agora, no gesto, no sorriso, no cheiro, no beijo, no olhar…

“Para sempre” é sentir e querer sentir mais…

“Para sempre” não é tempo… é sentimento…

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Outono


Já não sei se é em mim que me perco, ou simplesmente em todos os caminhos que fiz, sozinho, enquanto deambulava por sonhos e fantasias que aqui moravam, no meu peito, bem dentro de mim, e estavam reflectidas em todos os recantos que era capaz de ver, com este olhar obstinado e persistente… ou talvez demasiado crente, que se foi perdendo, nesta fusão de verdades e ilusões, mentiras e medos, dúvidas e retrocessos, onde construí os castelos que quis ver, e vi, erguidos…

Caem agora as primeiras folhas de um Outono menos dourado do que os costumeiros Outonos que, repetidamente, nos visitam.
Caem as pétalas das flores de mil cores, que as desnudam e as deixam, envergonhadas e expostas a tudo o que de mais verdade elas contêm.
Caem as lágrimas de chuva nas pontas das folhas resistentes, das árvores já semi-nuas.
Caem as máscaras que as estações passadas emprestaram às verdades que escondiam.
Caem os velhos ramos, mortos, que, ficando, castrariam a renovação.

Virão novos… no seu ritmo, no seu ciclo, no seu momento, ou simplesmente quando assim for.

Voltará, o que das eras passadas restou, a ter novos ramos, novas folhas, nova vida, novas cores, novos amores, novos apaixonados, novos sorrisos…

E assim é… no seu tempo, com um propósito, uma razão, com maior ou menor capacidade de resistir ao frio que nos assola a alma, sempre que a vida entende ensinar-nos o que tantas vezes não vemos e nos recusamos tão violentamente a aceitar, que nos renovamos… assentes na velha árvore que nos sustém, segura e protege para nos oferecer, mais à frente, as novas flores de mil cores por que tanto esperamos…