segunda-feira, 2 de março de 2015

Viver (com o coração)

Chegaste de rompante sem ser esperado ou talvez, até, desejado. Trazias a cobrir-te um manto de estrelas que te iluminavam o coração em ferida, desconcertado pelas incertezas. Esse coração que ansiava o porto de abrigo que te fizesse, ainda por breves instantes, acreditar que não existem dores eternas ou, quem sabe, que a que te consumia não era real. Refugiaste-te nos silêncios, agarraste-te ao calor das palavras, dos gestos, da partilha muda, do abraço. Desejaste-o eterno, assim mesmo, com a pureza e verdade com que o conquistaras. Afinal o frio não era eterno, a dor não era real, e talvez te mostrasse a vida que "o avesso é o lado certo". 
A angústia que te ficou presa, num grito mudo, parecia agora mais leve e a certeza de que mais cedo ou mais tarde desapareceria, foi chegando pelo sorriso tímido das palavras que não dissemos. Não precisámos.
Voamos de silêncio em silêncio, de sorriso em sorriso, e deixamos falar os sentidos, a verdadeira vida, a essência, o instinto... Escorreu do corpo o medo, a dúvida, a incerteza sobre o amanhecer tão próximo. E mais sorrisos, mais verdade, mais de ti, de mim, de um nós que parecia construir-se, mais emoções que nos atravessaram e nos trespassaram. Guardámos tudo, e levámos na bagagem, cada vez mais cheia, todas as sensações que nos assaltavam. A viagem começou sem nos apercebermos e já não queríamos voltar atrás.
Sonhámos mundos, vivemos vidas, partilhámos as mais profundas verdades, as infinitas certezas e incertezas que assolam os corações e as almas dos que ousam querer viver. Construímos vidas eternas, caminhos longos em estradas de mil cores, perfumadas pelas essências dos nossos corpos que se fundiam nas mais belas danças de amor.
Não percebíamos, mas não precisávamos, não queríamos. Agora era assim, e o universo sabia. E nós também. Tudo o que nos bastava para continuar a ousar viver.
Sonhei-te em momentos eternos, inteiros, plenos de vida e de mim. De entrega, das mil cores que conhecemos e contruí em mim essas novas vidas e tantas novas entregas. A certeza reergue-se a cada segundo de verdadeira vida, coberta de plenitude e de verdade, em conexão comigo, com o mundo, com o universo. Mesmo quando dói.
As portas do meu coração não fecham, não prendem, não amarram e é, certamente, por isso que ele não desiste de me fazer mais inteiro, mais feliz em todos os momentos, mesmo que sejam tão somente isso... momentos. Que o sejam, mas que o sejam sempre assim. Aceitarei sempre, a sorrir, todos as oportunidades de relembrar que estou vivo, que sinto, que desejo.
O teu coração está quente, agora. A noite fria, o manto de estrelas desapareceu e deu lugar a um céu bordado a diamantes, onde se tocam as mais belas canções que aprendemos juntos. 
Voa para onde te leve o coração. Ele está pronto para voltar a sangrar. Ele voltou a viver!

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